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Por que seu filho vai mal nas provas?

Updated: Jan 31, 2024


"Ler afeta tudo o que você faz". Estas foram as palavras de um menino ao se sentir frustrado por não acompanhar os colegas no progresso da leitura. Procuramos neste artigo demonstrar as principais causas do baixo rendimento na educação das nossas crianças.


 

Quando os pais me perguntam no que devem prestar atenção no começo da educação de seus filhos, qual o primeiro passo a ser dado, respondo o seguinte: “devem entender algumas teorias simples, nada muito complexas, teorias que irão ajudá-los a enxergar melhor o motivo pelo qual devem ajudar seus filhos além do que lhes é ensinado na escola.


Hoje, irei falar sobre uma dessas teorias denominada de “Efeito Mateus”, inspirada no versículo bíblico que ensina o seguinte: “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado”. Mateus 25:29.


Essa é uma ideia usada por estatísticos, principalmente na sociologia, para comparar crianças e adultos menos favorecidos socialmente com crianças e adultos mais favorecidos. O raciocínio da teoria é o seguinte: quanto mais investimento a criança tem nos anos iniciais, mais ela avança economicamente numa “escada” de progresso social. Um investimento inicial irá ajudar a criança a subir o primeiro degrau, por exemplo, e este primeiro degrau irá ajudá-la a subir o segundo, o segundo ajudará a subir o terceiro e assim por diante.


Contudo, a escada pode se tornar descendente também. É o que acontece com as crianças menos favorecidas, ou seja, quanto menos investimento são submetidas no primeiro degrau, menos irão se desenvolver profissionalmente até a fase adulta. Não apenas deixam de subir a “escada”, mas começam a descer, pois a falta de investimento acarreta em vários problemas desde educacionais, sociais e afetivos. Ou seja, não ficam apenas estagnadas no primeiro degrau, mas pioram. Nesse caso, ao invés de subir, o aluno começa a descer.

Esses dois efeitos crescem para os lados opostos, um para cima e outro para baixo, formam um abismo entre os dois grupos. Por isso, quanto mais você tem, mais lhe será dado e quanto menos você tem, mais lhe será tirado.


Estudos mostram que o baixo desempenho das crianças nos estudos está relacionado com a falta de estímulos adequados na primeira infância. Principalmente ao baixo rendimento em leitura e escrita.

A questão se a teoria é verificável na realidade ou não, ou se o raciocínio é aplicado à economia, ao desenvolvimento social do indivíduo etc; podemos deixar de lado. O que mais importa é que o raciocínio foi trazido para o campo da aprendizagem e da leitura e isso ajudou a verbalizar uma situação que acho primordial: a relação entre construir aprendizagens para dar suporte às próximas aprendizagens, ou seja, assim como há uma “causa e efeito” na relação entre investimento e subida social dos indivíduos, há também essa característica na aprendizagem: um aprendizado inicial construído irá ajudar a criança subir o próximo degrau de aprendizagem e assim por diante, ou seja, “aprendizagens iniciais geram as próximas aprendizagens”.

Neste sentido, é importante destacar o que foi mencionado no artigo “Perspectivas econômicas, neurobiológicas e comportamentais na construção da futura força de trabalho da América”, onde se analisou estratégias para alavancar a força de trabalho bruta do país com investimento em educação na primeira infância:


"Todas as capacidades são construídas com base nas capacidades desenvolvidas anteriormente. Este princípio decorre de duas características que são intrínsecas à natureza da aprendizagem: a aprendizagem precoce confere valor às habilidades adquiridas, o que leva a uma motivação auto reforçadora para aprender mais, e o domínio precoce de uma gama de competências emocionais tornam o aprendizado em idades posteriores mais eficiente e, portanto, mais fácil e com maior probabilidade de continuar."¹

Como a citação demonstrou, uma habilidade construída na primeira infância irá ajudar a construir a próxima numa escala progressiva. Por outro lado, quando a criança deixa de ter um aprendizado, os próximos aprendizados que ela deveria adquirir serão prejudicados, pois faltou ao anterior se consolidar. Preste atenção neste exemplo que envolve o processo de aprendizado da leitura:


"A aquisição de leitura lenta tem consequências cognitivas, comportamentais e motivacionais que retardam o desenvolvimento de outras habilidades cognitivas e inibem o desempenho em muitas tarefas acadêmicas. Em suma, à medida que a leitura se desenvolve, outros processos cognitivos ligados a ela rastreiam o nível de habilidade de leitura. As bases de conhecimento que estão em relações recíprocas com a leitura também são inibidas de um maior desenvolvimento. Quanto mais tempo essa sequência de desenvolvimento continuar, mais generalizados os déficits se tornarão, penetrando cada vez mais em áreas da cognição e do comportamento. Ou, para colocar de forma mais simples - e infelizmente - nas palavras de um choroso menino de nove anos, que já ficava frustrantemente para trás de seus colegas no progresso da leitura: “Ler afeta tudo o que você faz”.²

Depois que os pais entendem que existe uma escala de aprendizado e que as primeiras habilidades e competências adquiridas de seus filhos pequenos predizem o sucesso ou fracasso escolar deles, fica mais fácil mostrar para esses o motivo de crianças e adolescentes irem tão mal em provas escolares ou testes como, por exemplo, o Saeb, o Enem, o Pisa, entre outros testes estaduais e municipais. Fica mais fácil explicar também duas características de acordo com análises desses testes: o analfabetismo e o analfabetismo funcional.


Atividades de alfabetização bem elaboradas e aplicadas para crianças pequenas, aumentam o desempenho em leitura e evita o analfabetismo funcional.

Só um adendo sobre o analfabetismo e o analfabetismo funcional: Apesar de serem características difíceis de se separarem, pois uma é “ligada” a outra, a primeira seria não ser propriamente alfabetizado, não ter a capacidade de codificar – transformar símbolos em sons e vice-versa. A segunda, é uma progressão da primeira, o aluno até consegue ler, mas não com destreza suficiente para dar atenção ao objetivo final da leitura que é a compreensão, logo, fica preso aos aspectos técnicos da leitura atrapalhando o processo de compreensão textual. Isto pode ser tema de um próximo artigo, pois é de fundamental importância entender esse processo, a partir daí é possível compreender o que acontece com a leitura de seu filho.


Voltando ao raciocínio, outra questão que fica mais fácil de explicar para os pais é que, provavelmente, caso eles não se atentem às primeiras etapas do aprendizado do seus filhos, estes podem vir a fazer parte dessas estatísticas agora ou no futuro. Falo isso porque quando penso na teoria supramencionada, questiono o motivo dos maus resultados dessas crianças e adolescentes nessas provas e tento mostrar aos seus pais que o problema não foi construído no dia em que seus filhos foram fazer a prova, ou na semana ou nos meses anteriores, mas sim, desde tenra idade esse problema vem sendo “construído”.


Falo isso pois ouço muitos pais tentarem resolver os problemas escolares ou de aprendizagens de seus filhos quando recebem os boletins ou quando percebem que outras crianças já leem e escrevem e os deles não. Contudo, aí o problema já está consolidado. Basta remediar? Um dia irei explicar com base em pesquisas já consolidadas que o tratamento tardio é bem menos eficaz que o precoce. Mas, também, isso será objeto de análise de um próximo artigo.


O que acontece é que foram mal pré-alfabetizados, não tiveram uma boa preparação para serem alfabetizados, logo, a alfabetização da criança se compromete. Com a alfabetização mal treinada, nada mais óbvio que há defasagem na leitura e escrita posterior. Olhe só este exemplo de uma habilidade que é diferenciar fonemas, um dos primeiros passos para se aprender a ler:


"Conforme previsto por esta hierarquia de processamento de informações, a capacidade das crianças de discriminar fonemas aos 6 meses de idade prevê sua capacidade de compreender palavras e frases em idades posteriores, e uma incapacidade de discriminar fonemas leva a deficiências de linguagem generalizadas mais tarde na vida."¹

Percebe-se a cascata de problemas? Pela ótica da teoria, os alunos brasileiros, em geral, sofrem do “Efeito Mateus”. Não do grupo que sobe a escada, mas do outro. Não criaram o primeiro degrau firme o suficiente para sustentar os próximos. Cria-se um efeito dominó.


"Cunningham e Stanovich (1997) acompanharam alunos do 11º ano que receberam uma bateria de tarefas de leitura no 1º ano. Dez anos depois, eles foram administrados com medidas de exposição à impressão, compreensão de leitura, vocabulário e conhecimento geral. A habilidade de leitura da primeira série foi um forte preditor de todos os resultados da 11ª série e permaneceu assim mesmo quando as medidas de habilidade cognitiva foram interrompidas..."³

Para concluir, poderia mencionar outras causas para os desastrosos resultados de provas e testes: o econômico, o social, o afetivo, o familiar, a cultura, o clima etc; mas não posso deixar de falar do aspecto da aprendizagem em si. Todas essas características afetam a aprendizagem, mas nada atrapalha mais do que a própria má aprendizagem. Por que isso acontece? Por que não se trabalha com as nossas crianças esses primeiros passos? Onde está o problema? Na pré-escola? Nos anos iniciais do ensino fundamental?


Prometo que irei trazer mais respostas para essas questões com o tempo. Mas o que quero deixar aqui é o que sempre falo e indico para os pais que atendo ou me procuram: “Fiquem atentos à primeira infância, pois ela irá influenciar muito o que o seu filho irá aprender mais adiante em sua vida”. Reflita sobre essa teoria para ajudá-lo a construir um caminho de aprendizado sólido, um pouco de cada vez, um centímetro ou um metro de cada vez para que esses pequenos avanços ajudem a criança a percorrer os próximos quilômetros um dia.


Acredito que ao refletirmos sobre essas questões, elas nos ajudam tanto como professores, quanto como pais, pois isto mostra que estamos atentos ao desenvolvimento de quem mais valorizamos. É gratificante conhecer pais que se envolvem e acompanham os resultados de seus filhos.


Espero ter ajudado em alguma coisa e aguardo os seus comentários. Se você quer se aprofundar mais neste tema, e saber como criar uma base sólida para o aprendizado dos seus filhos, clique aqui e assista a uma apresentação gratuita onde demonstramos como você pode fazer isso na prática.



Até o próximo artigo.




Referências

 

1. Knudsen, E. l; et all. Economic, neurobiological, and behavioral perspectives on building America’s future workforce. Johns Hopkins University School of Medicine, Baltimore, MD, Maio de 2006.


2. Stanovich, K. E. Matthew effects in reading: Some consequences of individual differences in the acquisition of literacy. Reading Research Quaterly , p. 360-390, Outono de 1986.


3. Cunningham, A. E., Stanovich, K. E. Early reading acquisition and its relation to reading experience and ability 10 years later. Developmental Psychology. 1997.

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