Muitos pais e professores se queixam da dificuldade que as crianças têm em compreender textos, mesmo em séries avançadas do ensino. No entanto, será que o problema é realmente na compreensão textual? Neste artigo, são apresentados 3 passos simples que as crianças devem dar antes da compreensão.
Por mais que possa não parecer, o aprendizado da leitura e da escrita são assimilados a partir da aquisição de uma técnica, uma criança que não sabe ler e escrever, ao aprender, passa a dominar uma técnica que envolve alguns processos cognitivos e motores.
Sendo assim, antes de esperar que a criança tenha compreensão de texto é necessário verificar se ela domina a técnica da leitura e escrita, dito de outro modo, a decodificação e a codificação.
Decodificar: transpor sinais gráficos em sons da fala.
Codificar: transpor sons da fala em sinais gráficos.
Olhando assim pode parecer complicado, mas fazemos estes dois processos o tempo todo e de forma automática quando estamos lendo ou escrevendo.
E aqui é que está o pulo do gato, antes da criança compreender e interpretar um texto, ela precisa ter automatizado o processo da leitura, a decodificação.
Para termos certeza que as crianças automatizaram este processo existem 3 passos básicos pelos quais elas devem ter passado.
1º Passo: A criança deve entender a correspondência entre os grafemas (letras ou conjunto de letras) e seus fonemas (mínimas unidades da fala).
2º Passo: Após dominar a correspondência entre grafemas e fonemas a criança deve treinar as junções dos mesmos, ou seja, ela vai começar a juntar os sons das mínimas unidades da fala representados pelos grafemas e formar sílabas.
3º Passo: Além das junções grafo fonêmicas a criança vai precisar automatizar esse processo, evoluindo em precisão, velocidade da decodificação, fazendo ajustes em prosódia, ritmo e entonação, mas agora aumentando o número de sons e letras formando palavras e até frases curtas. Com o tempo e com o treino ela fará tão rápido o processo de decodificação que isto tornar-se-á automatizado. Formando rapidamente as sílabas, palavras, frases etc.
Quando a criança automatiza a decodificação podemos dizer que ela está começando na leitura fluente. É só neste ponto que podemos dizer que a criança está alfabetizada e pronta para os processos superiores da leitura.
Ao alcançar esse patamar de leitura, ou decodificação, a criança executa todo esse processo sem esforço, ela não demanda tanta memória de trabalho e esforço cognitivo para decifrar o que está escrito, sobrando, dessa maneira, memória e atenção para dispender na finalidade da leitura, que é a compreensão.
Isto é, nosso cérebro não tem a capacidade de fazer vários processos em alto rendimento ao mesmo tempo. Você precisa automatizar alguns processos para focar a atenção em outros, “os processos específicos da leitura não são processos de compreensão, mas que levam à compreensão”.¹
Quando você tiver em dúvida se sua criança está com algum problema em compreensão de texto, faça um teste simples, pegue o texto e leia para ela com a prosódia e a fluência adequada, depois de ler faça algumas perguntas chaves sobre o tema tratado no texto. Tenho certeza de que a sua criança terá entendido bem o que o texto diz.
O que você pode concluir desse teste simples?
Que o problema da criança não é em compreensão, pois quando alguém faz a leitura ela entende muito bem, mas o problema é na etapa anterior, é na Alfabetização, a criança não decodifica o texto com velocidade e precisão adequada ou ela faz muito esforço para decodificar o que está escrito e não sobra nenhum pouquinho de “memória RAM” cerebral para ela entender o texto.
O exemplo mais claro que sempre damos nas nossas aulas sobre alfabetização é do motorista aprendendo a dirigir.
Lembra quando entramos na autoescola? Se você já aprendeu a dirigir vai se lembrar, com certeza.
Como foram as primeiras vezes que tentamos dirigir um carro? Ficamos preocupados com os pedais, quando tínhamos que pisar na embreagem, a velocidade que precisávamos soltá-la depois de olhar para o câmbio para ver se a marcha estava engatada direito, olhávamos os espelhos retrovisores e esquecíamos de engatar a marcha etc.
É a mesma coisa, enquanto não automatizamos todos os processos que precisa para o carro andar, não conseguimos prestar atenção no trânsito e dirigir com segurança.
Na leitura para ter compreensão textual é a mesma coisa, enquanto não automatizamos a técnica da decodificação não conseguimos prestar atenção nos processos superiores da leitura.
Então, da próxima vez que você desconfiar que seu filho ou aluno está com dificuldade na compreensão de texto, faz essa pergunta:
Ele entende o que eu falo e o que eu leio para ele?
Caso a resposta for sim, o problema dele não é em compreensão, mas sim em algum processo de aquisição da técnica da leitura.
Verifique em quais dos 3 passos ele tem falhas e corrija essas falhas. Para fazer essa correção você vai precisar fazer um diagnóstico e, depois de identificado as falhas, trabalhar as competências e habilidades necessárias para que ele desenvolva a leitura.
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Até o próximo artigo.
Referências
1. José Morais. Criar bons leitores: para professores e educadores. 1ª Edição. Minha Editora, 2013. Página, 114.
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