Existem certas verdades que só são transmitidas pela linguagem poética. Toda tentativa de resumir as nuances da vida pela “língua de pau” dos conceitos científicos é apenas um jeito sofisticado de não entender nada. Por isso, eu acredito que boas histórias são formas sutis de educar.
Todos os anos, nas férias, assistimos o Senhor dos Anéis com as crianças. Elas ficam deslumbradas com aquele mundo fantástico descrito por Tolkien, cheio de magia, criaturas e aventuras.
O mais impressionante em boas histórias como esta é a força da atração, quase que natural, que elas exercem sobre aqueles que param para escutá-las. Este é um bom termômetro para identificar uma boa história, o quanto ela é capaz de lhe prender através do enredo.
O Senhor dos anéis é uma dessas histórias que as crianças ficam encantadas esperando para ver todos os detalhes, apesar de já conhecerem de cabo a rabo, elas sempre querem repetir e se emocionar com a trama.
Por que essa história é importante para a educação infantil?
O mais importante diante de uma obra dessa magnitude são as entrelinhas. Pois, basicamente, a saga do anel é iniciada por uma pequena comunidade, a sociedade do anel, que comungando de valores em comum resolvem confrontar as forças do mal, simbolizada por Sauron, o olho que tudo vê. Não é apenas uma força material, mas sim uma força onipresente, é como que o príncipe desse mundo. Um anjo caído que domina todos os potentados conhecidos da terra.
Apesar disso, criaturas singelas e frágeis como os Hobbits resolvem, por livre e espontânea vontade, confrontar essa força maligna. Aqui encontramos um paralelo com as crianças. Os Hobbits são criaturas pequenas, simplórias e de coração puro. Eles não sabem o que estão fazendo, mas entusiasmados com a possibilidade da aventura não pensam duas vezes antes de tomar para si a responsabilidade de salvar toda a terra média.
A obra é cheia de simbolismos e referências, mas não é esse o propósito aqui. O que quero ressaltar são os aspectos mais primários daqueles jovens Hobbits, que mais se parecem com os nossos filhos do que com adultos. No que eles mais se aproximam das crianças? Na pureza do coração. Este é o aspecto mais infantil dos Hobbits, são criaturas simples e puras.
O autor de o Senhor dos Anéis ressaltou essa pureza de coração nessas pequenas criaturas que, apesar da fraqueza aparente, conseguiram confrontar as forças malignas do mundo inteiro.
Cada uma das personagens dessa história pode ser vista como, em certos aspectos, potencialidades da alma humana. Os anões como mineradores, enfiados embaixo da terra a procura de riquezas, podem ser aquele tipo humano que vive atrás do dinheiro, enfiados na terra e na matéria, sem contemplação e sem vida interior.
Já os Elfos, que escutam muito bem, veem através das aparências, têm os sentidos aguçados, vivem em locais elevados e cantam belamente, podem ser interpretados como os aspectos angélicos da nossa alma, aquela inclinação que temos para o sobrenatural e para o que é mais elevado.
Os humanos, como Aragorn e Boromir, são bem parecidos com todos nós, oscilam entre o mundo sobrenatural e a matéria, são corpo e alma, queda e redenção.
E onde entram os Hobbits nessa história, eles são criaturas do campo que, apesar de ligados ao cultivo da terra não se afundam e nem se apegam a ela, gostão de manter seus hábitos, cuidar das suas coisas e ficarem confortáveis no seu condado, raramente se metem pelo mundo em busca de aventuras, só quando são estimulados.
É aqui que entra um outro personagem importante da história, aquele que estimula a todos para que floresça as suas potencialidades, quem faz esse papel da providência que empurra todos para cumprir seu chamado é o Gandalf, este tem também um aspecto angélico, como um mensageiro de Deus que vem trazer a todos a sua missão.
O interessante nesta história é que não existem heróis, não são personagens que com seus poderes vencem o mal ou a injustiça no mundo, é muito mais “pé no chão”, ou seja, inúmeras situações e ocasiões levam a um resultado final. É como se fosse a própria providência agindo no mundo, tudo parece estar perdido, mas de alguma forma o bem prevalece de um jeito improvável.
Assim como era improvável um Hobbit, que não sabia nem empunhar uma espada, ser o portador do anel do poder. Mas são nessas pequenas e desprezíveis criaturas, que passam sem serem notadas, que apesar da insignificância, toda a bondade nasce, fluí e cresce. Isto é muito significativo, pois faz-nos ver que são nas pequenas entregas diárias, no conforto dos nossos lares, da vida simples e oculta que a graça divina age, cresce e enche todo o mundo de bondade e alegria.
Os Hobbits do Senhor dos Anéis nos mostram essa verdade, é das pequenas coisas, dos condados de nossos corações, que saem toda a força e perseverança para vencer o mal que nos rodeia. E esta é uma verdade que as crianças conseguem perceber ao terem contato com histórias como essas.
Da mesma forma, quando olhamos para o mundo, só enxergamos tragédias, guerras e dificuldades, mas ao mesmo tempo e de forma paradoxal vemos a alegria nos olhos das crianças que, na sua pureza natural, nos dá esperanças e sabemos que é dessa fragilidade e simplicidade das crianças que o mundo depende.
Outras histórias infantis são mais explícitas, por exemplo, quando lemos Pinóquio sabemos logo de cara que quando temos compaixão, amamos o próximo e desenvolvemos as virtudes nos tornamos mais humanos, ao passo que, quanto mais nos distanciamos disso, ficamos mais brutos e animalescos. Este é o caso do Pinóquio, o boneco de pau que só se tornou um menino de verdade depois que aprendeu a amar e ter compaixão.
Ou mesmo a história do chapeuzinho vermelho, que ao desobedecer aos pais acabou causando a morte da avó e quase foi comida pelo lobo. Ou seja, o mal existe e é eminente, precisamos ouvir os mais velhos e ser obedientes, do contrário, podemos acabar muito mal.
Enfim, todas essas histórias, explícitas ou não, vão imprimindo no subconsciente das crianças ensinamentos que elas carregarão para o resto da vida. E a mensagem mais relevante do Senhor do Anéis, creio eu, é o propósito de cada um na história. Cada ser, mesmo os mais desprezíveis, de alguma forma contribuem para que o bem prevaleça sobre o mal.
Até mesmo o Gollun, degradado pela ambição ao anel do poder, cumpriu o seu propósito. E se não fosse a pureza dos corações de singelos Hobbits o mundo estaria perdido.
Por trás desse grande enredo está pressuposto essa verdade. São nos pequenos e puros de coração que a providência age e se manifesta. Deixai vir a mim os pequeninos pois são deles o reino dos Céus.
Acredito que quanto mais as crianças veem histórias como estas, elas podem não saber explicar, porém aos poucos vão sendo impregnadas por essas verdades e tornar-se-ão cada dia mais humanas, alçando níveis mais elevados de suas existências.
Por isso que boas histórias são formas sutis de educar. Essa forma de educar nem sempre é tão explícita, não tem nenhum tipo de garantia e, muito menos, são certificadas por órgãos do governo, mas são cheias de tesouros escondidos em cada uma de suas linhas. Se você quer saber mais como utilizar boas histórias para ensinar seus filhos a ler, clique aqui, e assista a uma apresentação gratuita do nosso método, onde demonstramos o passo a passo para você fazer isso na prática.
Até o próximo artigo.
Comments