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As lagostas e a educação infantil

Updated: Jun 21, 2023

Pode parecer estapafúrdio relacionar lagostas com a educação infantil, porém, se observarmos bem de perto essa relação não é tão forçada assim, para quem deseja entender seus filhos e como se relacionar melhor com eles pode encontrar algumas respostas na vida desses crustáceos.


 

Você sabia que pode entender melhor o comportamento dos seus filhos observando o comportamento das lagostas?


Sim, não é de hoje que observando o mundo natural e o comportamento dos animais entendemos melhor a nossa natureza, com isso conseguimos lidar melhor com o mundo e com as pessoas que nos cercam.


Você já imaginou como seria melhor a sua relação com as crianças se soubesse como elas agem e como agir com elas?


Foi pensando nisso, em te ajudar a entender melhor os seus filhos e melhorar o seu convívio com eles que, enquanto lia o livro 12 regras para a vida de Jordan Peterson¹, me veio um pensamento, uma conexão entre o que ele fala no livro sobre as lagostas e suas hierarquias de dominância com o comportamento infantil.

Você acha que irei comparar lagostas com crianças? Não só com crianças, mas com os adultos também. É claro que não somos iguais as lagostas. Mas em certos aspectos, em algumas decisões e em algumas fases da vida talvez essa relação seja muito mais forte do que parece.

Enfim, se você quer entender melhor o comportamento infantil, leia este artigo até o final e verá que não só o comportamento das lagostas é similar ao nosso, mas conhecendo como elas se comportam “socialmente”, conseguimos olhar em perspectiva nossos comportamentos e entender melhor como decifrar as atitudes e os comportamentos dos nossos filhos.


Ao entender como funciona o comportamento infantil em cada uma das fases do desenvolvimento das crianças, você vai conseguir educá-las melhor.

Nosso cérebro assim como o das lagostas possuem uma região antiga e “fundamental” que “registra nossa posição na hierarquia de dominância”. O que é isso? “É um sistema de controle ajustando nossas percepções, valores, emoções, pensamentos e ações em relação à posição social que vivemos.” Ou seja, todas essas percepções dependem e giram em torno de nossa posição social. Basicamente, é como reagimos a uma espécie de sucesso “social”, ao sucesso em sobreviver, ao respeito dos pares, à aceitação de grupos, ao sucesso financeiro, à conquista de bons cônjuges, etc.

Para mostrar que eu não estou delirando e, se quiser dar uma olhada mais de perto, Robert M. Sapolsky escreveu um artigo² muito interessante onde discute como o status social pode afetar a saúde física e mental dos indivíduos em diversas espécies animais, incluindo humanos. Sapolsky apresenta evidências de estudos que mostram como animais que ocupam posições mais baixas na hierarquia social podem apresentar maiores níveis de estresse, doenças crônicas e menor expectativa de vida.


As lagostas, assim como vários seres vivos, são viciadas em posições sociais, vivem em um mundo regido por esse sistema. As lagostas mais fortes e bem-sucedidas socialmente são as que subjugam as outras lagostas, conquistam os melhores territórios com mais comida, segurança, conforto e, é claro, conquistam as lagostas “fêmeas”. Na verdade, aqui, para fazer jus à causa masculina, são as fêmeas que procuram as vigorosas e fortes lagostas “macho”.


Elas vivem isso a todo vapor. É natural para elas. É um estilo de vida.


É óbvio que os seres humanos não vivem isso ao pé da letra, somos seres mais complexos, munidos de percepções elevadas, como a transcendência, e de uma autoconsciência que nos eleva a outro status na hierarquia animal.

Por mais que na modernidade é comum alguns buscarem essa equivalência entre todas as espécies animais, o ser humano é o único capaz de ter essa consciência plena do “eu”, assim como é o único capaz de falar dessas bobagens de equivalência das espécies. Você nunca verá um guaxinim ou um gafanhoto preocupado com isso.


Existem alguns comportamentos dos animais que nos ajudam a entender o comportamento infantil.

Contudo, existem situações ou períodos da vida que essa autoconsciência ou estas percepções elevadas do ser são deixadas de lado, ou são suprimidas pelos apetites mais primitivos, são nesses momentos que nos comportamos de maneira similar as lagostas.

Então, existem situações e fases da vida que essas relações são mais fortes. E isto ocorre principalmente no período da infância, dos três aos sete/oito anos de idade essas características são bem evidentes.

Nos adolescentes essas relações também são evidentes, mas são mais complexas. Por exemplo, o adolescente, no geral, entende que ser o mais forte não adianta muito, é necessário ser mais inteligente que isso. É necessário ser do grupo mais forte. Fazer mais acordos entre os seus para se manter líder. Por isso todo aquele esforço para se sentir de um grupo, etc. Mas o olhar para o mundo do adolescente fica para um próximo artigo. Focaremos aqui o nosso olhar para o mundo infantil.

Enfim, qual é a ponte que quero fazer com o estilo de vida das lagostas e a educação de crianças? Para ficar mais claro essa ligação vamos lembrar de uma história famosa: A Bela e a Fera. As histórias infantis, as fábulas, os contos, etc., são poderosas ferramentas pedagógicas que nos ensinam ou demonstram por alegorias e fantasias algo real e verdadeiro.

O próprio Jordan Peterson dá a pista dessa ponte em seu livro. Ele sublinha que o arquétipo mostrado da Fera é algo similar à maneira de viver das lagostas. Ou seja, a fera é um ser que chama a atenção pela brutalidade, força e feiura. Decide aprisionar o pai de Bela e ninguém seria contra sua decisão. A história mostra que há um aspecto da vida humana que é parecido com esse arquétipo. Que há momentos que decisões são tomadas pela força e brutalidade e não pelo diálogo, pela justiça e compaixão.

As histórias infantis, as fábulas, os contos, etc., são poderosas ferramentas pedagógicas que nos ensinam ou demonstram por alegorias e fantasias algo real e verdadeiro.

Professores de crianças pequenas e até de pré-adolescentes percebem bem isso. Muito do que rege o comportamento social das crianças e pré-adolescentes é o que domina o comportamento das lagostas e outros animais.

Pode ser exagero, mas quem nunca quando pequeno deu de frente com o “maior” da turma? O alfa da turma que se impõe pela sua postura e estrutura corporal e, é claro, quando necessário, com a sua força física?

Até a postura das lagostas se difere socialmente entre as vencedoras e as perdedoras. As vencedoras, cheias de si, por mérito é claro, andam eretas olhando para cima. Agora, por outro lado, repare como andam os alunos que sofrem “bullying” nas escolas? Aqueles alunos que não são “ninguém” em seu meio? Perceba como é a sua comunicação corporal? Olhando sempre para baixo, ombros rebaixados, nos cantos fugindo sempre das brincadeiras e, consequentemente, dos conflitos?

É claro que o mundo infantil não é só uma guerra sanguinária de luta constante para decidir quem vai ser o líder do grupo. As crianças não vivem em disputas constantes em todos os lugares para ver quem vai ser o dominante. Contudo, isso é muito mais por causa de um “acordo de contenção de danos” mesmo que inconsciente do que por elas serem pacíficas ou cheias de virtudes para com o próximo.

Assim como no mundo das lagostas existem “acordos” entre as crianças, não acordos assinados em cartório, mas feitos por gestos, palavras e posturas.

Com as lagostas esses acordos funcionam assim: as lagostas, mesmo sendo as mais fortes, sabem que elas não podem ficar lutando o tempo todo com as lagostas perdedoras. Elas sabem que sempre que precisar lutar, mesmo que vençam seus oponentes, ficarão machucadas ou exaustas. Isso é um “prato cheio” para terceiros, para aquelas que ficam esperando a carcaça dos lutadores após as batalhas para vencê-los com mais facilidade. Logo, as lagostas mais fortes, as primeiras colocadas, entram em acordo com as perdedoras, as que ficam em segundo lugar. Estas, aceitam o segundo lugar na hierarquia social, pois podem até ficar com menos do que as primeiras, mas ficam com mais do que as demais.


Ao longo dos milênios, os animais que tiveram que conviver com outros nos mesmos territórios consequentemente aprenderam vários truques para estabelecer o domínio, ao mesmo tempo em que arriscavam a menor quantidade de dano. Um lobo derrotado, por exemplo, vai se deitar de costas expondo sua garganta ao vitorioso, que, de sua parte, não vai se dignar a dilacerá-la. O lobo agora dominante pode ainda precisar de um parceiro caçador, mesmo que seja o patético ex-rival derrotado. Os dragões barbudos, lagartos notavelmente sociais, balançam suas patas dianteiras pacificamente uns para os outros para indicar seu desejo pela continuidade da harmonia social. Os golfinhos produzem pulsos sonoros especializados enquanto caçam e durante outros momentos de alta emoção para reduzir o conflito em potencial entre os membros dominantes e subordinados do grupo. Esse comportamento é endêmico em comunidades de seres vivos. E as lagostas perambulando pelo fundo do oceano não são exceção. (Peterson. Jordan. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos. Pág. 05)

Para ilustrar como isso ocorre de maneira similar no mundo infantil, vou contar uma história que revela como essa relação de disputas e acordos hierárquicos entre lagostas podem ser um equivalente verdadeiro entre as crianças, quem me contou essa história foi um amigo professor que presenciou os fatos descritos a seguir.

Um dia esse professor amigo teve que cuidar de uma turma de pré-adolescentes. De início já pôde identificar os líderes da turma. Era uma turma de alunos de dez anos de idade. Nessa turma havia dois líderes.

No começo do ano os dois mais dominantes da turma ainda não haviam se resolvido quem seria o líder deles, quem seria a lagosta mais poderosa. Então, após duas ou três semanas de aulas com esses dois alunos quase todos os dias brigando entre si, e as brigas nunca chegavam a se consolidar e ter um veredito pois sempre havia o próprio professor ou algum adulto para apaziguar antes do desfecho.

Com isso, sempre havia uma tensão na sala, todos sabiam e esperavam o dia que iriam se esmurrar e resolver de vez a questão. E o dia veio. Por um descuido dos adultos os dois alunos se confrontaram e brigaram até um desistir.

Depois disso, esse professor disse que houve paz na sala. Pronto. Estava resolvido quem seria a lagosta mais forte da turma. O professor achou que depois da luta, sempre o segundo colocado iria querer vingança todos os dias e seria uma guerra até o fim do ano letivo. Mas não foi isso o que aconteceu. Ao contrário, os dois viraram colegas de bagunça.

Houve uma espécie de acordo resolvido entre os dois na luta. O segundo colocado, o que apanhou, aceitou ser o segundo da turma. O primeiro não batia mais nele e o resto da turma também não.

Existem fases do desenvolvimento infantil que as crianças querem testar suas forças, é nesse momento que é necessário desenvolver o autocontrole.

Essa comparação é mais evidente no mundo infantil. No mundo do adolescente e adultos as relações ficam mais complexas. Os adolescentes por exemplo entendem que ser o mais forte da turma não é mais suficiente se esse forte está sozinho.

Por isso é bem notório o esforço que os adolescentes fazem para entrarem em grupos e serem aceitos. No mundo do adolescente é mais evidente essa luta para serem aceitos nos grupos mais fortes. O mundo do adulto ainda possui resquícios dessas tensões, porém fica ainda mais complexo, contudo, esses aspectos do mundo adulto é outro assunto e requer mais análise.

Enfim, o objetivo desta meditação é entender melhor o comportamento infantil e a partir daí melhorar a sua relação com as crianças. Com certeza, a partir dessas reflexões você vai conseguir entender melhor como lidar com as crianças e poderá identificar se elas estão em disputa por recursos ou posições.

Existem fatores externos que influenciam o comportamento das crianças e fazem com que elas desenvolvam habilidades de convívio social que inibem essas atitudes mais primitivas que já vem no seu “hardware”. Um desses fatores é o sistema de interações estabelecidos na configuração familiar. Pais mais atentos à formação dos filhos conseguem desde cedo imprimir em suas ações meios de negociar posições ao invés de disputá-las pela força.

Saber disso não torna essa tarefa mais fácil, pois o que diferencia nossas ações das ações de outros animais é o poder de abstração e o desenvolvimento da autoconsciência. Então, um dos nossos papeis é ajudar a criança a se estabelecer no mundo, desenvolver seu potencial para um dia poder dizer “eu sei quem sou”.

Isso leva tempo e requer o auxílio dos pais no seio familiar, quanto mais você se relacionar com as crianças mais fortes elas ficarão ao se relacionarem com o mundo, pois a casa e os pais são o porto seguro que as crianças se apoiam para se desenvolver e se relacionar com o mundo.

É possível fortalecer esse desenvolvimento conhecendo as características da infância e as inclinações infantis, a não ser que você queira que seus filhos disputem seu lugar no mundo como os demais animais, como, por exemplo, os dragões barbudos, aqueles lagartos sociais que balançam suas patinhas para os mais fortes.

Se você não quer isto para seus filhos, procure desenvolver alguma atividade com eles pois é no dia a dia que você vai conseguir imprimir no comportamento deles os padrões e atitudes adequadas para as circunstâncias da vida.

Enfim, uma última colocação é que se você está procurando alguma coisa para fazer com seus filhos, saiba que o desenvolvimento da linguagem é uma das ferramentas mais poderosas que temos para nos estabelecermos no mundo. Existem várias formas de você estimular a linguagem dos seus filhos e ensiná-los a dominar o seu próprio idioma, é através da linguagem que alçamos posições na hierarquia social sem utilizar a força e participamos dos aspectos mais complexos da vida.


Para entender melhor como participar ativamente da educação dos seus filhos, cumprindo o seu papel de mãe, de pai, de educador e como desenvolver esse ambiente propício para o desenvolvimento infantil, clique aqui e assista a uma apresentação gratuita onde você vai entender como fazer tudo isso em casa e com pouco tempo por dia.



Até o próximo artigo!




Referências

 

1. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos. Jordan Peterson.

2. Sapolsky, R.M. (2004) “Social status and health in humans and others animals.” Annual Review and Anthropology, 33, 393-418.






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