Para educar nas virtudes é pedagogicamente mais poderoso mostrar com atitudes do que ensinar com palavras. Os atos virtuosos só se realizam nas situações concretas, não nas intenções subjetivas ou nas definições abstratas. Isto é assim pois a virtude só se realiza nos atos virtuosos.
“A virtude só se realiza nos atos virtuosos”
Lembro da minha mãe me levar em um asilo de velhinhos que a Igreja que ela frequenta ajudava e sustentava. Às vezes eu não tinha com quem ficar em casa, era criança, não podia ficar sozinho, então, ia com a minha mãe e passava uma tarde lá com os idosos. Achava chato, mas era obrigado a ir. Ficava lá comendo os doces das vovós, vendo eles cozinharem, atazanando a vida deles, correndo e ouvindo suas histórias. Aprendi o que é caridade com essa experiência.
Minha mãe nunca me ensinou a definição de caridade. Nunca nem lembro de conversarmos sobre isso. Porém, hoje eu sei exatamente o que é ser uma pessoa caridosa. É uma pessoa que ajuda os que precisam. Minha mãe é uma pessoa caridosa, pois pratica a caridade. Eu sei disso porque a vi praticando e, em certos aspectos, era obrigado a estar com ela e praticar isso, sem que soubesse o que estava acontecendo realmente.
“A virtude só se realiza nos atos virtuosos” dizia meu professor José Monir Nasser. Por isso é pedagogicamente mais poderoso você mostrar à criança como se faz do que ensinar a definição de virtude. Deve-se ensinar mostrando e fazendo a criança praticar a virtude. Isso é assim pela própria definição de virtude como dito na frase do professor.
Seria muito mais fácil se mostrássemos no quadro o que é a caridade pela sua definição nos dicionários: “Aquilo que se oferece a; esmola, favor, benefício; Tendência natural para auxiliar alguém que esteja numa situação desfavorável”. E, logo depois, o aluno começasse a praticá-la. Infelizmente, não é bem assim que funciona.
"A chance é muito maior de seu filho imitar o que você é
e não o que você fala para ele fazer".
Vejo muitos livros didáticos com frases de efeito explicando como se deve agir, como se deve fazer em tal situação, como ser um bom cidadão, como ser um bom filho e por aí vai. Isto, no máximo, são apenas definições de padrões comportamentais socialmente aceitos. Esqueçam isso. A chance é muito maior de seu filho imitar o que você é e não o que você fala para ele fazer. É necessário um salto muito grande na mente da criança para ela fazer o que você pede e não o que ela vê você fazendo.
Em 2017, Loana Lupu, professora associada da Essec Business School, na França, publicou descobertas sobre as crianças imitarem os hábitos de trabalho de seus pais no futuro. Isso não só acontece com o trabalho, mas com outras instâncias da vida, por exemplo, elas imitam como seus pais tratam as pessoas, os animais, organizam seu ambiente, etc., ou seja, os pequenos possuem um poder de imitação consciente e inconsciente muito grande. É uma forma muito consistente de se aprender algo.
Resumindo, entendemos que uma pessoa só possui uma virtude se a pratica e as crianças imitam as práticas dos adultos em vários comportamentos desde como trabalham até como tratam outras pessoas.
Logo, se quiserem aumentar a probabilidade de educar seus filhos para as virtudes, vocês mesmos devem praticá-las para que seus filhos observem, pratiquem e entendam que aquele comportamento é normal, aceito, premiado, etc.
Ter que praticar a virtude é um problema para os pais?
Não sei, mas vejo muitos pais querendo seus filhos estudiosos, amorosos, bons, justos, pacientes, enfim, tudo o que eles, os pais, não mostram e não fazem, mas que exigem de suas crianças.
Se é um pai ou uma mãe que não pratica nada para ajudar a ensinar o seu filho, ele irá depender de outras pessoas, outros modelos, outras famílias, para perceber como se comportar em determinadas situações. Torça para ele achar por aí bons exemplos.
Nós adultos temos dúvidas morais o dia inteiro, por isso é necessário um repertório de experiência e imaginação para resolvê-las da melhor forma possível. A maioria dessas dúvidas não são “importantes” o suficiente para pararmos para pensar, refletir e decidir. Fazemos isso no automático. Imitamos e seguimos em frente.
Contudo, o repertório de uma criança é bem menor. Ela possui menos experiências, menos modelos, menos imaginação, etc. Não é por isso que ela fica parada sem agir, reagir e experimentar. Ela vai procurar saber o que fazer e como fazer, agirá de acordo com o que imitou, viu e internalizou.
O que fazer?
Não sei bem ao certo o que você deve fazer, mas tenho algumas ideias a partir da minha experiência como professor e também de alguns estudos que demonstram a influência que o estilo de vida dos pais, da comunidade, etc têm sobre o comportamento infantil. Então, quando me perguntam sobre o que fazer para melhorar o comportamento dos filhos eu sempre indico uma arte marcial, desde que seja praticada com um bom mestre, em uma boa academia. Neste ambiente, com certeza, as crianças encontrarão um modelo de conduta, disciplina, hierarquia, etc, ou seja, a organização necessária para auxiliar nas bases da formação da sua persolanidade e do seu caráter.
Por que indico isso?
Dentro de uma academia são necessárias algumas características interessantes de se observar.
É necessário um comportamento devido em relação ao respeito, à disciplina, vestes, ao físico, ao mental, etc.
É uma espécie de ferramenta que pode ajudar os pais quando estão em dúvidas ou não sabem o que fazer.
É uma referência de como se comportar.
Falo para eles: vão até uma academia de arte marcial e observem. Observe, especificamente, uma academia de jiu-jítsu, pois é o que tenho de experiência. Numa aula de jiu-jítsu, por exemplo, você não fica lá ouvindo sermões pensando em como ser respeitoso. Você tem que praticar o respeito, senão, não tem aula. Primeiro, para um aprendizado acontecer em uma aula de jiu-jitsu é necessária uma ordem no ambiente, um lugar certo para se trocar, para colocar seus pertences, tatame limpo, etc. Nunca o Mestre pediu para colocarmos as coisas nos devidos lugares. É auto evidente para todos onde cada coisa fica e como se comportar em cada lugar do ambiente.
Seu filho não vai sair por aí na rua cumprimentando todos os mais velhos, limpando o chão dos lugares onde pisa, gritando quando salta um meio-fio ou defendendo todos os injustiçados. Mas, com certeza, vai saber obedecer e ouvir os mais graduados (geralmente os mais velhos no treino), vai saber o que é organização e limpeza de tatame, vai aprender a dominar melhor seu corpo tanto em condição física e alimentação, e vai aprender que em pessoas que não sabem se defender ainda não é necessário uso de força e técnica para humilhá-las ou machucá-las.
Tudo isso é garantia de ter um filho saudável mentalmente?
Por que sempre ouvimos que a arte marcial ensina disciplina, respeito, hierarquia, entender regras, limites, etc? Porque ali a criança não vai ouvir sobre essas coisas, vai observar essas coisas acontecendo no ambiente, nos seus amigos de treino e nos seus mestres.
O aluno vai praticá-las se quiser participar. Simples assim. Então, ele internaliza isso. Observa um ambiente organizado, observa e imita uma pessoa com determinadas virtudes. Nem que essa virtude seja a paciência de ensinar ou a disciplina para ter um corpo saudável ou até a coragem para enfrentar seus adversários maiores ou melhores.
Agora, se o aluno a pratica ou não fora do ambiente de luta é outro problema, mas ele conheceu como se comportar, criou uma referência. Vai poder escolher entre um modo de agir ou outro. Antes, às vezes, não conhecia nenhum. Num ambiente de treino, não há opção, ele vai ter de praticar. Senão, está fora. Por isso falo para colocarem as crianças nestes tipos de esportes, frequentarem ambientes e lugares com pessoas que praticam atos virtuosos.
Tudo isso é garantia de ter um filho saudável mentalmente? Super virtuoso? Não. Nada é garantia. Temos que trabalhar com probabilidade. Não é um jogo de causa e efeito. Há muitas variáveis, mas agora você está sabendo como se trabalha as virtudes com as crianças, então, responda: O que seu filho mais pratica? O que o seu filho mais admira? Quais as pessoas que ele observa todos os dias? Qual o horizonte imaginativo que ele está criando? Quais as decisões que ele anda tomando? Baseado em que ele tomou aquela decisão?
Dependendo de como você responder a essas perguntas, notará o que deve ser feito para ajudar o seu filho a melhorar seu comportamento. Uma outra maneira de ajudar no comportamento das crianças, é praticar alguma coisa com elas, de preferência alguma coisa que exija disciplina e constância. Ou seja, alguma coisa que você pára e faz todos os dias com elas, nem que seja só por alguns instantes.
Para isso, desenvolvemos um método com um passo a passo para você ensinar seus filhos ou alunos a ler e escrever bem. Se você quer saber como funciona o nosso método, clique aqui, e assista a uma apresentação gratuita onde demonstramos como fazer isso de forma prática e objetiva.
Até o próximo artigo.
Referências
Bhushan, Ambika. Study: Children 'over-imitate' adults. Yale Daily News. Dezembro de 2007. https://yaledailynews.com/blog/2007/12/06/study-children-over-imitate-adults/
Sabater, Valeria. Por que as crianças imitam os adultos? A mente maravilhora. Fevereiro de 2022.
Donna, Redação. Estudos comprova que filhos imitam os hábitos dos pais. Gauchazh. Maio de 2009. https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/noticia/2009/05/estudo-comprova-que-filhos-imitam-os-habitos-dos-pais-cjpmziayj00fiaqcniu86l0zm.html
Turits, Meredith. How remote working could be changing children's futures. Family Tree. BBC. Fevereiro de 2022.
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