Cerca de 45 estados americanos deixaram de ensinar a escrita cursiva em favor da proficiência no teclado. Em Quebec, não há planos no momento de abandonar esse tipo de escrita. O ensino e o uso diário da caligrafia são essenciais, nem que seja para evitar ficar à mercê da tecnologia, afirmam especialistas em um novo artigo.
Universidade de Montreal - Tradução: Equipe Alfabetização Diária.
“O ensino e o uso diário da caligrafia são essenciais, nem que seja para evitar ficar à mercê da tecnologia”, afirma a professora Isabelle Montésinos-Gelet, da Faculdade de Educação da Universidade de Montreal. Embora acolha com satisfação a ideia de os jovens aprenderem a manusear o teclado do computador, ela acredita que isso deveria ser introduzido no currículo escolar quando os alunos já dominam um estilo de escrita: bastão (letras separadas) ou cursiva (letras unidas).
“Aqui, como em muitos países, a abordagem geral do ensino da escrita é baseada na tradição e não em pesquisas educacionais que tenham benefícios comprovados”, afirma a professora.
Durante gerações, a maioria dos estudantes aprendem a letra bastão na primeira série e a escrever em letra cursiva na segunda. “Isso foi decidido em um momento em que se desconheciam os aspectos cognitivos do processo de escrita e o importante papel das habilidades gráfico-motoras na aprendizagem da escrita”, afirma a pesquisadora, que realizou um estudo sobre o tema: O que é melhor, letra bastão ou cursiva? Que forma de instrução por escrito é mais benéfica para os alunos?
O estudo, realizado em colaboração com as professoras Marie-France Morin, Universidade de Sherbrooke, e Natalie Lavoie, Universidade de Quebec à Rimouski Sherbrooke, com 718 alunos e professores em 54 salas de aula do segundo ano da cidade de Quebec, demonstra a influência de três métodos de ensino de caligrafia (letra bastão, cursiva, ou letra cursiva separadas) na aquisição de habilidades gráfico-motoras (velocidade e qualidade de escrita), ortografia e construção de texto.
Os resultados, publicados em 2012 na revista Linguagem e Alfabetização, mostram que os alunos que aprenderam a letra cursiva foram os que mais se beneficiaram na alfabetização. Em particular, tiveram melhores resultados em ortografia e sintaxe. “Esses dois aspectos são elementos essenciais que contribuem para o desenvolvimento da escrita no nível primário”, afirma Isabelle Montésinos-Gelet.
Pior abordagem: o método de letras cursiva separadas
“Quer aprendam letras bastão ou cursivas, as crianças ficam melhor quando um tipo de escrita é ensinado”, diz ela. “Ensinar os dois tipos não promove a aquisição de movimentos motores automáticos, que desempenham um papel importante na ortografia e na construção do texto”.
Os dados mostram que mais de 50% da variação na qualidade da escrita entre os alunos do segundo ano está associada às habilidades gráfico-motoras. Esse número dificilmente surpreende o pesquisador. “Se as crianças escrevem muito devagar, não conseguem lembrar-se de todas as suas ideias; esquecem-nas antes de as poderem escrever”, explica ela. “Daí a importância de automatizar os movimentos motores para que não mobilizem todos os recursos das crianças”.
A transição para a escrita cursiva na segunda série dificulta essa automatização. As conclusões da sua investigação indicam que as competências de escrita melhoram em termos de velocidade e legibilidade até ao final do ano, independentemente do tipo de escrita. Por outro lado, os alunos que aprenderam a letra bastão na primeira série e depois começaram a escrever cursiva na segunda série tiveram menos progresso na ortografia. O método cursivo com letras separadas não ajudou na consolidação da memória na ortografia das palavras.
No início do ensino fundamental, as crianças experimentam um crescimento na ortografia que lhes permite soletrar muitas palavras, algo parecido com a fase de desenvolvimento da linguagem por volta dos dois ou três anos. Se eles tiverem que mudar o estilo de escrita neste momento, isso impedirá sua memorização, pois exigirá mais trabalho cerebral”, diz Isabelle Montésinos-Gelet.
Para ela, o ensino da escrita cursiva traz melhores resultados em comparação aos outros dois métodos. “Observamos entre esses alunos um aumento nas habilidades sintáticas, diferentemente daqueles que aprenderam apenas as letras bastão ou que aprenderam as duas coisas. O desempenho desses alunos manteve-se estável ao longo do ano letivo”.
Evitando letras "invertidas"
Aprender a escrever em letra cursiva também tem a vantagem de incentivar os alunos a respeitarem as restrições linguísticas desde o início. "As crianças que aprendem a letra bastão tendem a tratar as letras como imagens e muitas vezes as escrevem ao contrário." Essa abordagem retarda a integração do que os especialistas chamam de “gramática de traços”, ou seja, a sequência de gestos para produzir letras ideais.
Quando os alunos escrevem diretamente em letra cursiva, são obrigados a seguir uma espécie de caminho determinado pela direção dos traços. “Caso contrário, não conseguiriam juntar as letras”, diz Isabelle Montésinos-Gelet. "Então, não há letras invertidas."
Além disso, as crianças que escrevem em letra cursiva não têm nenhum problema de espaçamento entre letras e palavras. “Eles entendem o conceito de palavra mais rapidamente do que os demais e, por isso, tendem a ter melhores habilidades gráfico-motoras relacionadas ao processamento da linguagem, o que os auxilia na sintaxe e na ortografia”, afirma a pesquisadora.
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Até o próximo Artigo.
Referências
Marie-France Morin, Natalie Lavoie, Isabelle Montésinos-Gelet. The Effects of Manuscript, Cursive or Manuscript/Cursive Styles on Writing Development in Grade 2. Language and Literacy, 2012.